terça-feira, fevereiro 06, 2007

Sim ou Não eis a questão

Já estava mais do que na hora de fazer uma intervenção aqui no blog e escolhi precisamente o tema do aborto para o fazer.
Tenho lido imensas crónicas, notícias, ouvido opiniões, visto programas para me ajudar a votar em consciência. Naturalmente que sempre tive uma forte inclinação para o sim, contudo acho importante ouvir o que o não tem a dizer, e se os motivos forem de facto válidos não sou obtusa ao ponto de não mudar de opinião.
Marcelo Rebelo de Sousa veio de uma forma muito engenhosa levantar a dúvida no seio dos apoiantes do sim. De repente já não se sabe bem em que é que se vai votar. Então mas agora vou andar para aí a bancar os abortos todos? Uma mulher para abortar só tem de pagar a taxa minima e voilá.. sai mais barato que a pilula porque vamos andar todos a pagar?? Realmente assim não!
Fiquei realmente baralhada com as opiniões que se iam levantando do lado do não, parecia que já estavam as leis todas aprovadas e que a pergunta do referendo já não era a despenalização do aborto mas sim a falência das contas públicas e a degradação dos valores morais da nossa sociedade.
Finalmente hoje fiquei esclarecida ao ver o debate prós e contras, que infelizmente dá a horas extremamente tardias o que impede muita gente de ver o programa. Percebi que afinal está tudo em aberto e que, no que vamos realmente votar, é na despenalização do aborto. O aconselhamento e acompanhamento das mulheres, as formas e condições em que vão ser praticados os abortos, quanto vai custar ao estado, tudo isso vai estar em aberto para discussão e aprovação no parlamento. E nada do que foi dito até agora como sendo um facto incontestável o é de facto.
Naturalmente vamos ter de confiar nos nossos governantes, mas como é óbvio ninguém é a favor do aborto e temos de confiar que a gestão do orçamento vai ser feita da melhor forma.
A questão de fundo nem é as mulheres serem presas, porque vão continuar a ser marginalizadas pela sociedade, pelo menos nos tempos mais próximos. A questão fulcral reside na saúde pública e no acompanhamento das mulheres no decorrer de uma decisão desta natureza.
A única certeza que temos é que votar não é manter as coisas tal como estão, enquanto votar sim é tomar uma atitude e acabar com esta hipocrisia.
O que mais me irrita na campanha do não é a forma banal como falam das mulheres que fazem ou fizeram um aborto. Parece que votando sim as mulheres vão todas a correr fazer abortos. Aliás eu já estive a falar com as minhas amigas e se o sim ganhar vamos todas deixar de tomar a pílula para podermos abortar. É a diversão do século XXI.
A Dra Assunção Cristas escreve no blog www.assimnao.org/opinao.htm o seguinte: "Não, o que se pretende é liberalizar totalmente até às 10 semanas a prática do aborto. De modo que a decisão sobre a maternidade já não precisa de ser tomada antes da gravidez". Ouvir isto de um homem choca mas perdoa-se a ignorância, mas de uma mulher?? Tem-se assim em tanta consideração? Isto é o total descrédito do bom senso, já para não falar das emoções das mulheres. Fazer um aborto não é uma decisão nada fácil de tomar. Existem imensas complicações fisicas e psicológicas que podem advir. Não existe nenhuma mulher que decida abortar se não for em caso de extrema necessidade. Esta senhora doutora esteve presente no debate prós e contras como apoiante do não e fez inúmeras intervenções tristissímas, diria mesmo todas! Até corei com vergonha após cada intervenção dela.
Apreciei a boa vontade do lado do não em "desculpar" as mulheres que abortam, no sentido em que não precisam de cumprir pena. É assim uma espécie de longe da vista longe do coração. Podem fazer mas façam-no longe. Não nos façam ter de encarar a dura realidade, que é existirem pessoas que não têm poder económico para sustentar um filho. Mas depois, em total contradição, alegam que querem ajudar, querem dar apoio psicológico, fazer com que as pessoas não recorram ao aborto.
A este propósito houve uma excelente intervenção de uma médica que trabalha na suíça (lamento não me recordar do nome) que dizia não entender como é que uma criminosa pode procurar auxilio se é vista como uma criminosa, "sou criminosa, ajudem-me!?"
Poderia continuar aqui a inúmerar as hipocrisias defendidas pelo não, mas não creio que seja necessário. Já deixei presente os meus principais motivos de indignação. Como diz o professor Marcelo " Basta ter olhinhos na cara" para perceber que as mulheres não são monstros, desesperados por fazer abortos, por dá cá aquela palha.

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