sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Crise pré 25

No outro dia fui ao aniversário de uma amiga minha e fiquei.. não sei bem definir como me senti, mas fez-me pensar na minha vida.
Ao contrário do que habitualmente acontece, nesse dia fui a primeira a chegar ao restaurante, o que me permitiu ver todas as pessoas a entrar , a sentarem-se e a contar as principais novidades resumidamente.
Tinhamos todos entre 24 e 29 anos e deparei-me com um cenário em que tudo tinha o seu emprego fixo, filhos a caminho, casamentos planeados ou namoros de anos e anos.. uma vidinha rotineira.. que não é mau.. mas a mim assusta-me brutalmente. Senti-me a caminhar para a velhice em anos luz.
Esta cabeça que não para.. começou logo a pensar.. ai estou no último ano do curso, vou ter de entrar no mercado de trabalho, ter a tal vidinha rotineira que tanto me assusta. Casar, ter filhos???? ahhhhhhhhhhhhhhhhhh NÃOOOOOO!! Nunca mais vou ter férias de três meses. É horrível!
Trabalhar nem é o problema, há muitos anos que trabalho, mas eram trabalhinhos da tanga.. se faltasse um dia não era por isso que ia morrer, aquilo não era para a vida.. não tinha a pressão de ter contas para pagar, a casa, etc.
Agora já sinto o peso de ter contas para pagar.. a partir daqui é uma bola de neve.. contas para pagar, igual a responsabilidade, o que implica não nos podemos despedir no verão para ir de férias.. não podemos faltar porque estamos com uma dorzinha de cabeça porque nos podem mandar embora e depois como é que eu pago as contas???? CAOS!!! (não estou a usar vírgulas de propósito.. é mesmo suposto parecer cansativo.. deixar sem folego).
Enfim.. e estava eu nestes pensamentos cansativos, a comer na cozinha ás tantas da manhã, quando aparece a minha mamã com as suas habituais insónias da madrugada, que confesso já sentia falta, e me apaziguou o espírito.
Ela já tem mais uns aninhos que eu.. dizer coisas destas a uma pessoa com o dobro da minha idade soa a rídiculo. Fartou-se de rir.. e eu estava especialmente inspirada.. só me saiam frases dignas de florbela espanca! eheh Tenho pena de não me lembrar de nenhuma agora! O dramatismo em estado bruto!
Eu sei que exagero.. mas porra, nunca pensam nessas coisas? Eu não sei..acho que há pessoas mais talhadas para a realidade da nossa sociedade que outras. Eu gostava de viver num mundo paralelo.. sem obrigações. Desde pequenina que as obrigações me matam. Os livros obrigatórios a português.. eu que adoro ler, sempre que me obrigavam a ler um livro não conseguia. Só lia depois de já não ser necessário. Será que é crónico?? Começo a ficar preocupada!
Bem.. vamos esperar que isto passe! Beijocas e abraços e até à próxima!

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Sim ou Não eis a questão

Já estava mais do que na hora de fazer uma intervenção aqui no blog e escolhi precisamente o tema do aborto para o fazer.
Tenho lido imensas crónicas, notícias, ouvido opiniões, visto programas para me ajudar a votar em consciência. Naturalmente que sempre tive uma forte inclinação para o sim, contudo acho importante ouvir o que o não tem a dizer, e se os motivos forem de facto válidos não sou obtusa ao ponto de não mudar de opinião.
Marcelo Rebelo de Sousa veio de uma forma muito engenhosa levantar a dúvida no seio dos apoiantes do sim. De repente já não se sabe bem em que é que se vai votar. Então mas agora vou andar para aí a bancar os abortos todos? Uma mulher para abortar só tem de pagar a taxa minima e voilá.. sai mais barato que a pilula porque vamos andar todos a pagar?? Realmente assim não!
Fiquei realmente baralhada com as opiniões que se iam levantando do lado do não, parecia que já estavam as leis todas aprovadas e que a pergunta do referendo já não era a despenalização do aborto mas sim a falência das contas públicas e a degradação dos valores morais da nossa sociedade.
Finalmente hoje fiquei esclarecida ao ver o debate prós e contras, que infelizmente dá a horas extremamente tardias o que impede muita gente de ver o programa. Percebi que afinal está tudo em aberto e que, no que vamos realmente votar, é na despenalização do aborto. O aconselhamento e acompanhamento das mulheres, as formas e condições em que vão ser praticados os abortos, quanto vai custar ao estado, tudo isso vai estar em aberto para discussão e aprovação no parlamento. E nada do que foi dito até agora como sendo um facto incontestável o é de facto.
Naturalmente vamos ter de confiar nos nossos governantes, mas como é óbvio ninguém é a favor do aborto e temos de confiar que a gestão do orçamento vai ser feita da melhor forma.
A questão de fundo nem é as mulheres serem presas, porque vão continuar a ser marginalizadas pela sociedade, pelo menos nos tempos mais próximos. A questão fulcral reside na saúde pública e no acompanhamento das mulheres no decorrer de uma decisão desta natureza.
A única certeza que temos é que votar não é manter as coisas tal como estão, enquanto votar sim é tomar uma atitude e acabar com esta hipocrisia.
O que mais me irrita na campanha do não é a forma banal como falam das mulheres que fazem ou fizeram um aborto. Parece que votando sim as mulheres vão todas a correr fazer abortos. Aliás eu já estive a falar com as minhas amigas e se o sim ganhar vamos todas deixar de tomar a pílula para podermos abortar. É a diversão do século XXI.
A Dra Assunção Cristas escreve no blog www.assimnao.org/opinao.htm o seguinte: "Não, o que se pretende é liberalizar totalmente até às 10 semanas a prática do aborto. De modo que a decisão sobre a maternidade já não precisa de ser tomada antes da gravidez". Ouvir isto de um homem choca mas perdoa-se a ignorância, mas de uma mulher?? Tem-se assim em tanta consideração? Isto é o total descrédito do bom senso, já para não falar das emoções das mulheres. Fazer um aborto não é uma decisão nada fácil de tomar. Existem imensas complicações fisicas e psicológicas que podem advir. Não existe nenhuma mulher que decida abortar se não for em caso de extrema necessidade. Esta senhora doutora esteve presente no debate prós e contras como apoiante do não e fez inúmeras intervenções tristissímas, diria mesmo todas! Até corei com vergonha após cada intervenção dela.
Apreciei a boa vontade do lado do não em "desculpar" as mulheres que abortam, no sentido em que não precisam de cumprir pena. É assim uma espécie de longe da vista longe do coração. Podem fazer mas façam-no longe. Não nos façam ter de encarar a dura realidade, que é existirem pessoas que não têm poder económico para sustentar um filho. Mas depois, em total contradição, alegam que querem ajudar, querem dar apoio psicológico, fazer com que as pessoas não recorram ao aborto.
A este propósito houve uma excelente intervenção de uma médica que trabalha na suíça (lamento não me recordar do nome) que dizia não entender como é que uma criminosa pode procurar auxilio se é vista como uma criminosa, "sou criminosa, ajudem-me!?"
Poderia continuar aqui a inúmerar as hipocrisias defendidas pelo não, mas não creio que seja necessário. Já deixei presente os meus principais motivos de indignação. Como diz o professor Marcelo " Basta ter olhinhos na cara" para perceber que as mulheres não são monstros, desesperados por fazer abortos, por dá cá aquela palha.