terça-feira, fevereiro 21, 2006

Silêncio

Infinito na sua potencialidade e riqueza, o silêncio reveste-se de múltiplas dimensões. Para um árabe, por exemplo, estar em silêncio dentro de um grupo de amigos nada tem de constrangedor, uma vez que isso faz parte da sociabilidade e do seu código de comunicação, onde o silêncio é sentido como um prazer sereno.
Os ocidentais, por seu lado, incomodam-se com os longos silêncios dos japoneses, desorientam-se, irritam-se ou questionam a atitude. A este propósito Marc Smedt, autor do livro “Elogio do silêncio”, afirma que “se soubéssemos viver na calma deste silêncio, os nossos assuntos avançariam mais rapidamente, uma vez que os japoneses ponderam, avaliam e tentam perceber intuitivamente o que se encontra por trás das palavras”.
No ocidente, acreditamos que é preciso falar para comunicar, razão pelo qual os silêncios entre as pessoas são sentidos como pesados e nos levam a dizer qualquer coisa para os cortar (coisa que me acontece frequentemente). Já no oriente, o silêncio funciona como uma força poderosa, acabando, inclusivamente, por ser o centro de toda a estrutura da vida e do mundo. “Conhecer a cultura do silêncio é possuir a chave do próprio espírito do Japão”, afirma o autor.

A questão do silêncio tem constituido para mim uma verdadeira crise de identidade. Quem me conhece sabe que eu “falo pelos cotovelos”. Sou capaz de dizer as maiores parvoíces à face da terra só para não ter de passar pelo constrangimento de ver as pessoas caladas. O ruído é, para quase todos nós, causa de stress e tensão permanente. Por outro lado, e sobretudo nas cidades, o ruído tornou-se parte integrante da vida. Funciona, como uma droga e válvula de escape. Eu pessoalmente sou incapaz de passar muito tempo num sitio calmo, longe da agitação da cidade, sem um fundo musical (nem que seja o barulho do metro), movimento, discussões animadas... O silêncio inquieta-me e incomoda-me!
Vivemos, de facto, uma época marcada pela comunicação, pelo reinado da palavra, como se apenas esta nos devolvesse o sentido da existência e nos possibilitasse criar laços e vìnculos com as pessoas. O silêncio é, por isso, visto como algo a quebrar, como se através dele corressemos o risco de descobrir quem verdadeiramente somos, pondo a nu as nossas facetas mais ocultas. O barulho funciona como muro e carapaça!
Mas se por um lado o silêncio pode assustar por nos desarmar, as palavras podem levar as pessoas a criarem ideas sobre a nossa pessoa que não corresponde necessáriamente à realidade, porque se o silêncio nos assusta pelas razões que referi, não vão ser as palavras que vão mostrar o nosso verdadeiro EU.
Enfim, a verdade é que ando um bocado cansada de falar, ando a descobrir que afinal o silêncio é algo essencial e que tem de passar a fazer parte da minha vida urgentemente, até mesmo por uma questão de equilibrio.

Se estiverem interessados em aprofundar o conhecimento sobre os benefícios do silêncio comprem o livro “Elogio do silêncio” de Marc Smedt! Até à próxima!